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Embu das Artes parou para ver Mick Jagger comer vatapá

6 set
Sergio Fernandes/Guia Brasil Cultural 1995

Mick Jagger, em visita a Embu das Artes, durante a primeira turnê dos Rolling Stones, em 29 de janeiro de 1995Imagem: Sergio Fernandes/Guia Brasil Cultural 1995

Tatiana Cavalcanti

Do UOL, em São Paulo

27/01/2015 16h18

Conhecida pelas suas feiras de artesanato, a cidade de Embu das Artes, na Grande São Paulo, teve uma grande surpresa em 29 de janeiro de 1995, um domingo.

Foi quando Mick Jagger decidiu fazer um passeio por lá para aproveitar o seu dia de folga, após os dois primeiros shows que os Rolling Stones fizeram no Brasil, há 20 anos, nos dias 27 e 28, em São Paulo. Antes de encarar o terceiro dia de apresentação no estádio do Pacaembu, o vocalista da maior banda de rock do planeta circulou pelas ruas de Embu e optou por almoçar em um restaurante no centro histórico da cidade, onde experimentou comida baiana.

Proprietária do hoje extinto restaurante Orixás –onde hoje funciona uma loja de móveis–, Maria de Fátima Queiroz, 51 anos, recebeu o telefonema de uma guia turística naquela manhã, pedindo uma reserva para sete pessoas. “Escolhi a mesa do fundo sem ter ideia de quem estava por vir”, conta.

Maria de Fátima não estava no restaurante quando o astro de rock chegou. “Minha mãe me ligou e pediu para eu voltar urgente, porque o Mick Jagger estava lá. Minha primeira reação foi falar ‘vai se danar, mãe, para de brincar com a minha cara’, mas vi que a coisa era séria e corri para lá”, afirma.

Ao chegar à porta do próprio restaurante, Maria de Fátima foi barrada por dois “brutamontes” que estavam postados na entrada. “Sou dona daqui, me deixa entrar”, ela disse aos seguranças do cantor inglês.

miguel angel cabrera

  • Os seguranças estavam barrando a entrada de todo o mundo, por isso menti. Consegui entrar e pedi para entregarem ao Mick uma caixa de prata que eu tinha feito. Ele pegou e botou no bolso da camisa. Foi o único presente que ele guardou

    Miguel Angel Cabrera, escultou

Mick Jagger, que estava com integrantes da equipe que acompanhava os Rolling Stones, pediu o prato da casa. “Ele comeu salada de palmito, vatapá com camarão e pediu uma cerveja brasileira”, conta Maria de Fátima. “Apesar de o restaurante estar lotado, com uns 70 clientes, ele não foi abordado por quase ninguém, teve a privacidade que buscava. Ele é um cara simples e foi extremamente gentil”, conclui.Mas a paz de Mick Jagger durante o almoço acabou logo. Minutos antes de entrar no restaurante, o cantor foi visto pelo escultor argentino Miguel Angel Cabrera, 59 anos, que reconheceu o astro enquanto ele caminhava pelas ruas de boné e óculos escuros, vestido com uma camisa verde, calça azul e tênis branco. “Antes de entrar no restaurante, ele caminhou pelas ruas da cidade. Quando o vi, fiquei estático”, afirma Cabrera.

Depois de buscar um presente para o cantor inglês, o escultor foi até o restaurante, com seus cabelos longos e visual hippie, e, para entrar, mentiu que era segurança do Orixás. “Os seguranças estavam barrando a entrada de todo o mundo, por isso menti. Consegui entrar e pedi para entregarem ao Mick uma caixa de prata que eu tinha feito. Ele pegou e botou no bolso da camisa. Foi o único presente que ele guardou”, relembra.

maria de fátima queiroz

  • A confusão foi tão grande que não consegui guardar nem o guardanapo de pano que ele usou. As garçonetes misturaram tudo. Uma pena, seria uma recordação e tanto

    Maria de Fátima Queiroz, dona do antigo restaurante Orixás

Em pouco tempo, centenas de pessoas se aglomeraram na rua principal de Embu das Artes para tentar ver o vocalista dos Rolling Stones ou guardar alguma lembrança dele. A prefeitura até mobilizou policiais para isolar o local e enviou presentes para o astro, como camisetas da cidade e artigos de artesanato. “A confusão foi tão grande que não consegui guardar nem o guardanapo de pano que ele usou. As garçonetes misturaram tudo. Uma pena, seria uma recordação e tanto”, afirma a dona do antigo do restaurante.

Um cordão humano teve que ser formado para dar passagem a Mick Jagger e evitar que a multidão o alcançasse. Segundo relatos, o astro de rock saiu correndo e desceu a viela das Lavadeiras em busca do carro que o aguardava do outro lado. “No meio da confusão, ele se distraiu e bateu a cabeça em um poste. Os óculos dele até caíram”, afirma o empresário Marcelo Águila, 42 anos, que estava na sacada de seu antiquário quando o vocalista dos Rolling Stones desceu a viela.

Hoje, a visita de Mick Jagger à cidade é lembrada no Centro Cultural Mestre Assis de Embu das Artes. No minimuseu que funciona no local estão expostas uma foto do cantor no município (veja acima) e uma reportagem que foi publicada na época sobre o ilustre visitante.

  • César Itiberê/Folhapress

    Primeiro show dos Rolling Stones no Brasil faz 20 anos; veja imagens

  • Sergio Catro/Folhapress

  • César Itiberê/Folhapress

  • Otávio Dias de Oliveira/Folhapress

  • César Itiberê/Folhapress

  • Otavio Dias de Oliveira/Folhapress

  • Cesar Itiberê/Folhapress

É apenas rock and roll mas eu gosto

12 mar

Foto Mario Silva

Coleção de ítens da melhor banda do Planeta

Quarenta anos separam o lançamento do primeiro compacto dos Rolling Stones – que já trazia “Satisfaction” –do megashow na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, diante do emblemático Copacabana Palace, onde Mick Jagger, 62 anos, Keith Richards, também com 62, Ron Wood, o caçula, com 58, Charlie Watts, 64, e trupe ficarão hospedados, ocupando todo o sexto andar, cada um em uma suíte presidencial. A mais roqueira e antiga banda do planeta escolheu o Brasil para gravar o DVD de sua nova turnê mundial, A Bigger Bang, com lançamento mundial previsto para o segundo semestre de 2006. As areias de uma das mais famosas praias do mundo vão ferver em plena noite de 18 de fevereiro, apenas uma semana antes do carnaval carioca. A expectativa de público, por baixo, é de mais de um milhão de pessoas.

A banda inglesa pisa em solo brasileiro mais de dez anos após sua primeira apresentação por aqui, com Voodoo Lounge, em 1995. Eles voltariam em 1998, com Bridges to Babylon. Essa última turnê rendeu mais que dólares ao mítico vocalista dos Stones. Em maio de 1999, nasceria Lucas, filho de Mick com a apresentadora Luciana Gimenez. Realmente, o velho roqueiro não pára de ter satisfação.

Pois aí estão eles de volta. A turnê de 2006 começou em 10 de janeiro, em Montreal, no Canadá, seguida de dez shows nos Estados Unidos. Uma semana antes da apresentação em Copacabana, os rapazes se apresentam em Porto Rico, e depois de nosso solitário show eles seguem para Buenos Aires, para duas performances na capital argentina. No Rio, os Stones ficarão sobre um palco de 22 metros de altura, com 60 metros de largura e 28 metros de profundidade. Para os fãs, a pergunta que se repete a cada turnê: esta será a última? “Respondo isso desde 1966”, diz Mick. E também para quem não é fã, cabe outra: como explicar esse fenômeno de mais de quatro décadas? Como os Rolling Stones resistiram a um show business que cada vez mais valoriza o sucesso passageiro?

Rolling Stones em 1962

Mick Jagger, Brian Jones, Keith Richards, Bill Wyman e Charlie Watts

Quem ouvir o último trabalho da banda, A Bigger Bang, vai perceber que se trata de uma viagem no tempo, com uma sonoridade voltada para o blues, sua influência principal, e pode até pensar se tratar de um disco do início da carreira. Ao mesmo tempo, há uma mistura de riffs mais contemporâneos, modernos, mas nunca deixando as raízes de lado. Talvez seja esse o segredo de uma longevidade nessa banda repleta de conflitos de egos, crises e reviravoltas. Os “glimmer twins” – numa tradução livre, algo como “gêmeos brilhantes” –, como é conhecida a dupla Jagger e Richards, também têm a sua parcela de “culpa” nessa história.

Maior show da história do rock

Pessoas do mundo todo chegam ao Brasil

Tudo começou numa manhã de outubro de 1960. Keith, que faria 17 anos em dezembro, pega um trem de Dartford, sua cidade natal, para Londres, e reconhece um amigo de infância. Mick, já com 17, segura discos de Muddy Waters, Little Walter e Chuck Berry, e imediatamente há uma empatia musical entre os dois. Surge a idéia de formar uma banda que misturasse todos aqueles gêneros musicais, mas com uma pitada mais pesada e agressiva. O nome da banda foi inspirado em uma das músicas lançadas por um de seus ídolos, Muddy Watters. Era um blues – que se tornaria um clássico do gênero –, “Mannish Boy”, que em um dos versos diz: “I´m a rollin´ stone” (“Sou uma pedra rolando”).

O “casamento” teve início em 25 de maio de 1962. A banda era composta, além dos glimmer twins, por Brian Jones, músico mais talentoso, que morreria em 1969, aos 27 anos, afogado na piscina de sua casa, um dos mistérios do mundo do rock; Charlie Watts, baterista que destoava por ser mais elegante e polido, e Bill Wyman, que – dizem as más línguas (e algumas boas também) –, só entrou para o grupo porque possuía um amplificador. Deixou a banda em 1993. Com a morte de Brian, o guitarrista Mick Taylor assumiu, estreando com um show gratuito em Hyde Park, realizado três dias após a morte do stone mais genial. Participou de muitos sucessos da banda – o último trabalho foi It´s Only Rock and Roll. O “impopular”, como ficou conhecido, e também por ter esnobado a maior banda do planeta, saiu em 1975. Em seu lugar entrou Ron Wood, que conquistou a simpatia dos fãs e está na estrada até hoje.

Os gêmeos brilhantes do rock em 1962

Keith Richards (à esq.) e o parceiro de décadas Mick Jagger

Ao mesmo tempo em que os Beatles – que têm a mesma importância dos Stones na história do rock – eram considerados bem-comportados, bons moços, de trajes e cabelos impecáveis, os Stones eram feios, sujos e mal-educados. Agressivos, não tinham receio de mostrar que usavam drogas, mas eram acima de tudo ousados, e conseguiam falar a uma juventude assolada pela guerra do Vietnã e o conservadorismo da época, pré-era de Aquário, da revolução e liberdade sexuais. Os pais daquele tempo, dizia-se, jamais deixariam as suas filhas se casarem com um Rolling Stone. Era o rock também como instrumento de contestação, inclusive política, como em “Street Fighting Man”, que trazia referências (“pés marchando”, “hora de lutar”) às manifestações que começavam a ocorrer naquele período. Mas o caminho poderia ser individual também. “O que pode fazer um garoto pobre além de tocar numa banda de rock and roll?”, cantavam os Stones na mesma faixa, comparável a “Revolution”, dos Beatles.

Enquanto os Beatles falavam apenas em segurar as mãos (“I Wanna Hold Your Hand”), os Stones queriam fazer amor (“I Just Want to Make Love to You”) e “viajar” com cocaína e heroína (“Brown Sugar”). Essas diferenças, na verdade, faziam parte de um marketing pesado entre as duas bandas, que eram grandes amigas. Tanto que os Stones gravaram uma música de John Lennon, “I Wanna Be your Man”, e Mick Jagger participou da gravação de “All You Need is Love”, dos Beatles.

E o que pode chamar a atenção de uma garota para uma banda tão antiga? O primeiro show dos Stones no Brasil demorou 33 anos. Tive o prazer de reverenciar a banda naquele chuvoso 27 de janeiro de 1995, no estádio do Pacaembu, em São Paulo. Eu tinha apenas 15 aninhos. A chuva era tão forte que muitas pessoas desistiram de esperar, outras arrancavam a madeira que protegia o campo para se proteger. A apresentação de abertura, com Rita Lee, foi suspensa, e o pavor tomou conta dos fãs. O show seria cancelado? Mas, no meio do aguaceiro, uma voz anuncia: “Senhoras e senhores, pela primeira vez no Brasil, a maior banda de todos os tempos, os Rolling Stones”. No mesmo instante, a chuva cessa. A cobra gigante, postada na frente do palco, cospe fogo e abre alas para Mick Jagger e banda abrirem seu espetáculo com “Not Fade Away”. Foi o melhor show da minha vida, regado a blues e rock. O show de 1998, da turnê Bridges to Babylon, foi uma superprodução. Uma ponte ligava o palco maior, que representava os dias atuais, a um palco menor, que simbolizava os anos do início da banda. Nesse palco menor, o que se ouvia era puro rhythm and blues, apenas músicas de raiz, que inspiraram o início da banda. Foi realmente uma viagem no tempo. A próxima está chegando.

Show da turnê Voodoo Lounge 1994/1995

A contemporaneidade da banda pode ser a chave para o sucesso desse casamento. Em entrevista recente, Keith Richards disse que “é quase impossível prever quando a química de uma banda vai dar certo”. Se previu isso com os Stones, não se sabe. Mas, brigas e estrelismos à parte, soube manter o grupo unido – e também estava tocando com as pessoas certas. O guitarrista tem uma relação especial com o Brasil. Acredita que a terra do samba é mais um sentimento que um país. Foi no Rio, durante férias em meados dos anos 60, num passeio de barco, que ele recebeu a notícia de que sua primeira mulher estava grávida.

Há pouco tempo, perguntaram a Mick se esta será a última turnê de banda, e ele observou: “A primeira vez que respondi isso foi em 1966. Foi filmado”. A seguir, admitiu que será difícil para o grupo realizar outra turnê tão grande, e se diz entediado após o vigésimo show – e serão mais de 20 na atual caravana Bigger Bang. Passados 40 anos, eles se mantiveram na estrada porque sobreviveram a modismos mantendo a receita da boa música e acumulando ouvintes de várias gerações. É por essa razão que a praia de Copacabana irá abrigar pessoas de todas as faixas etárias, com um só objetivo comum: satisfação. É apenas rock and roll, mas eu gosto!

Tatiana Cavalcanti
São Paulo, 16/2/2006
Texto publicado originalmente no site Digestivo Cultural http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=1846&titulo=E_apenas_rock_and_roll,_mas_eu_gosto