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A última projeção do Belas Artes

18 mar

Foto: Mario Silva


Com o filme “No Tempo do Onça”, clássico de 1940 dos irmãos Marx, o Cine Belas Artes se despediu de seus amantes na noite desta quinta-feira, 17 de março. Fundado em 1952, o tradicional cinema da esquina da Avenida Paulista com a Consolação não sobreviveu a especulação imobiliária e foi obrigado a ceder lugar para o dono do imóvel, que pediu R$ 120 mil por mês de aluguel e recusou a contraproposta da administração do Belas Artes de R$ 85 mil. Final infeliz para uma história tão encantadora de um lugar que fez a alegria de tantos casais, jovens, velhos, crianças, solitários, enfim, uma infinidade de pessoas.

Último suspiro. Foto: Mario Silva

O prestígio do lugar é tal que um dos maiores frequentadores do Cine Belas Artes, Milton Godói Campos, mesmo com toda sua dificuldade de locomoção devido aos 84 anos de idade, fez questão de estar presente naquele infeliz momento histórico. “É uma lástima o fechamento deste cinema. Frequento assiduamente o Cine Belas Artes há dez anos, mas recordo muito bem desse lugar desde a minha juventude. Nem lembro quando foi a primeira vez que vim aqui. São Paulo descobriu seu vilão contra a cultura, personificada nos atuais donos do prédio”, afirma.

Foto: Mario Silva

Para protestar contra Flávio Maluf, um dos proprietários do prédio, manifestantes fizeram um boneco de vodu do empresário e distribuíam alfinetes para os cinéfilos enraivecidos espetarem seu objeto de revolta. A brincadeira divertida escondia a tristeza de todos ali.

Pouco antes do início da última projeção, o senador petista Eduardo Suplicy chegou ao local para apoiar André Sturm, diretor do Belas Artes. Num discurso antes do início da sessão de despedida, Sturm falou emocionado da sua luta para preservar o tradicional cinema. “Hoje é um dia de esperança, não de tristeza. O Belas Artes não vai morrer porque vai funcionar de qualquer jeito, mesmo que em outro local”.

Fachada do Cine Belas Artes em sua última noite. Foto: Tatiana Cavalcanti

O filme teve início na Sala 2 para uma plateia de cerca de cem pessoas, que não lotou completamente a sessão. O prestígio conquistado ao longo dos 68 anos do cinema ficou evidenciado pela quantidade enorme de profissionais da imprensa, de veículos grandes ou independentes, que foram registrar o último suspiro do tradicional Cine Belas Artes.

Foto: Mario Silva

É triste e deprimente constatar o fim de um ciclo cultural tão importante para uma megalópole como São Paulo. Lá se foi um dos últimos cinemas de rua nessa selva de pedra dominada por arranha-céus e diversões enjauladas.

Por Tatiana Cavalcanti