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Com inauguração do Cine Sabesp, magia do cinema de rua está de volta a SP – Minha breve entrevista com Leon Cakoff

17 out

Em tempos modernos, o cinema de rua vem sendo substituído pelas grandes redes em shopping centers. Nesse ínterim, a antiga Sala Cinemateca, na Rua Fradique Coutinho, nº 361, em São Paulo, foi ameaçada com a dúvida do fecha-não fecha por diversas vezes. Felizmente uma ação da Sabesp não permitiu que mais um cinema de rua fechasse suas portas e, na quarta-feira (16), foi inaugurado Cine Sabesp, no mesmo local histórico.

O filme de estreia não poderia ser mais apropriado, “Meninos de Kichute”, de Luca Amberg, que será lançado em dezembro. O longa retrata a infância nos anos 70, dos tempos dos álbuns de figurinhas da Copa do Mundo, brincadeiras inocentes e do auge do cinema de rua. Em 1974, em plena Copa do Mundo, o garoto Beto sonha ser goleiro, influenciado pelo jogador da Seleção Brasileira, Leão. O talento nato de Beto é recriminado pelo pai, que afirma que a sua religião não permite competições.

“Fiquei com inveja daquela infância gostosa, de brincar tranquilamente na rua, isso não acontece hoje”, afirma o protagonista do filme Lucas Alexandre, que interpreta Beto, de apenas 13 anos, em entrevista exclusiva ao Diário de Guarulhos.

Para o diretor Luca Amberg, é uma honra ter seu filme, que está em processo de finalização, na estreia do Cine Sabesp. “Fico feliz de estar aqui presente e pela atitude em recuperar um cinema de rua”, afirma ao DG.

O idealizador da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e sócio do Circuito Cinearte, Leon Cakoff, estava irradiante com a concretização do projeto. “Chovia aqui dentro desta sala. Hoje ela está linda e espero que atraia ainda mais um público cativo”, disse ao DG.

A intenção do CineSabesp é ter uma programação comercial, mas valorizando também o cinema paulista.
HISTÓRIA

O Cine Fiametta foi inaugurado em 1959 e, posteriormente, passou a funcionar como Sala Cinemateca, tornando-se ponto de encontro de pessoas do cinema e interessadas pelo assunto.

Publicado originalmente no jornal Diário de Guarulhos
http://www.diariodeguarulhos.com.br/jornal/f?p=181:4:3803714433117679::NO:4:P4_ID,P4_PALAVRAS:19063,cine sabesp+ inauguração+ são paulo

‘Tempos Modernos’ completa 75 anos celebrando a genialidade de Charles Chaplin

15 mar

Vagabundo na engrenagem da fábrica

Quase 10 anos após o início do cinema falado, o cineasta britânico Charles Chaplin insistia em permanecer “mudo”. Em 1936, o maior defensor desse gênero de filme finalmente abriu a boca. Foi em “Tempos Modernos”, película com poucos diálogos – já que Chaplin ainda relutava contra o cinema falado –, que o mundo conheceu a voz do artista mais completo de todos os tempos.

O “Vagabundo”, personagem imortalizado pelo artista inglês em diversos filmes, está desempregado e consegue trabalho como cantor em um restaurante. Inseguro com seu ato, ele recebe ajuda de uma amiga, uma pobre menina de rua, interpretada por Paulette Goddard (atriz que foi casada com Chaplin por 8 anos; o casal não teve filhos), que lhe faz uma “cola” com a letra da música. Só que o papel se esvai de suas mangas e ele tem que improvisar. Num misto de línguas similares ao italiano e francês, além de sons não identificáveis, Charles Chaplin canta e baila numa cena impecável, repleta de criatividade e talento desse extraordinário artista.

CENA DO RELÓGIO

Vagabundo entra na engrenagem da fábrica

Em “Tempos Modernos”, Charles Chaplin atuou, escreveu, dirigiu e compôs a trilha sonora do filme, o que prova a sua genialidade e o porquê é considerado um artista completo. Na história de vanguarda criada por Chaplin, um trabalhador de fábrica sofre com as modernidades impostas pela industrialização.

Até mesmo uma máquina alimentadora é testada pelo “Vagabundo”. Trata-se de um aparelho que dá comida aos trabalhadores enquanto eles aparafusam peças automotoras. Tudo isso para que o trabalho não pare. O cenário da fábrica é realista e tem até mesmo telas enormes espalhadas, para que o chefe possa controlar cada passo dado por seus funcionários.

Charles Chaplin em cena cômica

O filme retrata o individualismo crescente dentro das empresas, como o homem pode se adaptar a um trabalho quase escravo e torná-lo tão mecânico a ponto de enlouquecer. O “Vagabundo” sai aparafusando tudo que se parece com uma porca, ele não pode perder nenhuma, se não o sistema para. É nesse desespero por fazer seu trabalho corretamente que ele entra na engrenagem da máquina, na cena mais famosa do filme.

Outra parte magistral é quando o “Vagabundo” e sua jovem amiga, desempregados e passando fome, entram no departamento de brinquedos de uma grande loja. Ali, o “Vagabundo” coloca um par de patins, venda seus olhos para impressionar a moça e passa a bailar no mezanino do lugar, sem avaliar o risco de se acidentar.

“Tempos Modernos”, que completou 75 anos em fevereiro, faz duras críticas ao sistema de industrialização, ataca o individualismo e prega a solidariedade. Chaplin parecia prever o futuro.

Charlie Chaplin e Paulette Goddard

Por Tatiana Cavalcanti

‘O Retrato de Dorian Gray’, de Oscar Wilde, ganha nova versão para as telonas

12 mar

Dorian Gray com sua nova personalidade

No prefácio de sua obra mais famosa, “O Retrato de Dorian Gray”, o escritor irlandês Oscar Wilde afirma que “não existe livro moral ou amoral. Os livros são bem ou mal escritos. Eis tudo”.

A história de 1891, sobre a busca indiscriminada por beleza e juventude para saciar a vaidade humana, parece estar tão em voga hoje quanto no tempo da Inglaterra aristocrata do século 19, quando se passa a misteriosa narrativa.

A obra do escritor irlandês Oscar Wilde, tida como imoral e homoerótica no seu lançamento, ganha uma nova versão cinematográfica em filme homônimo, que estreia nos cinemas brasileiros em 25 de março. “O Retrato de Dorian Gray”, na visão do diretor Oliver Parker, é tão sombrio quanto o livro que inspirou o filme.

A narrativa gira em torno do amor platônico de um artista, o pintor Basil Hallward (Ben Chaplin) por um jovem de beleza estonteante, Dorian Gray (Ben Barnes, que impressiona pela semelhança física com Oscar Wilde), que regressa a Londres após a morte de seu avô. Dorian é retratado com perfeição em um quadro pelo novo amigo, e a pintura se torna a obra-prima do artista. Basil presenteia Dorian com o retrato, objeto que passa a ter uma conotação misteriosa, sustentada ao longo do filme.

Lord Henry Wotton (Colin Firth) e Dorian Gray (Ben Barnes)

Numa festa típica da sociedade inglesa, o influente e cínico Lord Henry Wotton (Colin Firth) se aproxima do ingênuo Dorian Gray, que é seduzido pelas palavras do aristocrata, que pregava que o propósito da vida são a beleza e a juventude. Harry apresenta o jovem Dorian à alta sociedade daquela Londres vitoriana e também aos prazeres hedonistas da cidade.

Sem razão aparente, Dorian esconde seu enigmático quadro no sótão de sua casa. Estimulado pelas ideias de Henry, e obcecado com o desejo de ficar eternamente jovem, Dorian Gray passa a assumir uma identidade insensível, cruel e até mesmo desumana. As aventuras selvagens dele continuam, mas enquanto ele aparece como um rapaz inocente e de boa índole para a sociedade, seu retrato, agora trancado no sótão, adquire características tenebrosas e horripilantes, como todo o mal feito que ele segue cometendo.

O rapaz de cabelos compridos e de beleza ímpar chama a atenção das mulheres e homens daquela sociedade conservadora. Dorian Gray se entrega de corpo e alma a experiências carnais e diabólicas, sem se dar conta que tudo que ele ama, morre. Foi assim com sua mãe, que perde a vida ao lhe dar à luz, e com sua noiva, que se suicida quando começa a perceber as mudanças no caráter do futuro marido.

Dorian Gray se entrega a uma vida de prazeres

O filme sabe manter o suspense, como na obra de Oscar Wilde, além de ter uma fotografia sombria e impecável. “O Retrato de Dorian Gray” é uma crítica a um estilo de vida de uma sociedade moralista e, ao mesmo tempo, hipócrita.

Por Tatiana Cavalcanti